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A TECNOLOGIA COMO CAMINHO PARA UMA EDUCAÇÃO CIDADÃ

Artigo Científico

 Iana Assunção de Aguiar1 

Elizete Passos2

 

RESUMO

 

Este artigo tem como objetivo refletir sobre a relação entre educação, tecnologia e cidadania na atualidade visando uma concepção de currículo inserido na lógica hipertextual. A proposta do artigo é dialogar com os conceitos desta tríade averiguando quais os conteúdos que precisam ficar claros para dar visibilidade e lugar a uma nova prática educativa que ajude na constituição de um cidadão capaz de atuar na sociedade em que está inserido. O presente trabalho é uma pesquisa bibliográfica. A coleta das informações foi realizada através do levantamento e análise de idéias diferentes trazidas por artigos e livros que tratam a temática apresentada. Conclui-se constata-se  que a tecnologia aliada à educação promove a cidadania, pois estimula a produção de saberes, democratiza o acesso a informação e ao conhecimento e potencializa a emancipação social.

Palavras-chave: Educação, tecnologia e cidadania.

 

 

ABSTRACT

This article aims to reflect on the relationship between education, technology and citizenship in order to present a conception of curriculum proposal hipertextual.A inserted in the logic of the article is to dialogue with the concepts of this triad ascertaining what content they need to get clear visibility and way to a new educational practice that helps in the formation of a citizen capable of acting in the society in which it appears. The present work is a literature search, the information gathering was conducted through a survey and analysis of different ideas brought by articles and books dealing with the subject presented. We conclude noting that technology coupled with education promotes citizenship, because it stimulates the production of knowledge, democratizes access to information and knowledge and enhances social emancipation. 

KEYWORDS: Education,technology and citizenship.

 

 

TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO

Normalmente quando se usa o termo tecnologia toda a atenção é voltada para o computador, definido por Lima Júnior (2005) como um reflexo ou extensão do modo operativo do pensar humano, capaz de elaborar abstrações dentro dos variados contextos encontrados transformando a si mesmo e o mundo ao seu redor.

O funcionamento dos seus softwares (programas) são abstrações ou proposições que ao serem utilizados pelo ser humano desencadeiam uma rede de acontecimentos e de significados, já que cada programa representa algum sentido para o usuário, servindo-lhe como referência que lhe permite encontrar soluções para problemas experienciados no seu contexto vivencial, alterando tal contexto e a si mesmo, sendo todo esse processo permeado de interesses, valores, possibilidades cognitivas, todos transitórios e diversificados, porém válidos.

Lima Júnior (2005) não define tecnologia apenas como a utilização de equipamentos, máquinas e computadores, nem pode ser entendida como algo mecânico ligado a idéia de produtividade industrial, seu conceito é muito mais abrangente e retorna á matriz grega de teckné trata-se de um processo criativo através do qual o ser humano utiliza-se de recursos materiais e imateriais, ou os cria a partir do que está disponível na natureza e no seu contexto vivencial, a fim de encontrar respostas para os problemas do seu cotidiano, superando-os.

De acordo com a matriz grega o processo tecnológico relaciona e articula indissociavelmente o ser humano e os recursos materiais ou imateriais por ele criados não podendo ser concebidos separadamente.

A técnica criativa é humanizada, pois é consequência da ação imaginativa, reflexiva e motora do sujeito, por outro lado o ser humano é tecnologizado, pois ao criar e utilizar recursos e instrumentos para atuar no seu contexto vivido ressignifica-se e transforma-se. Neste processo, o ser humano transforma o meio que está inserido e a si mesmo inventa e produz conhecimento.

Na práxis educacional este movimento pode ser traduzido com a dissociação do uso do aparato tecnológico apenas como recurso, conforme afirma Pretto( 2011, p. 110 e 111) Esses equipamentos, e todos os sistemas a eles associados, são constituidores de culturas e, exatamente por isso, demandam olharmos a educação numa perspectiva plural, afastando a idéia de que educação, cultura, ciência e tecnologia possam ser pensadas enquanto mecanismos de mera transmissão de informações, o que implica pensar em processos que articulem todas essas áreas concomitantemente

Para Kenski (2011) tecnologia é o conjunto de conhecimentos e princípios científicos que se aplicam a um determinado tipo de atividade como construir uma caneta esferográfica ou um computador, não importa, nesta tarefa o ser humano precisa pesquisar planejar e criar o produto, o serviço, o processo.

Oliveira (2001, p.101) segue este mesmo raciocínio ao afirmar: Em uma perspectiva técnico-científica, tecnologia refere-se à forma específica da relação entre o ser humano e a matéria, no processo de trabalho, que envolve o uso de meios de produção para agir sobre a matéria, com base em energia, conhecimento e informação.

É possível concluir que a tecnologia sofre a ação humana logo convive em perfeita simbiose com o ser humano influenciando nas relações sociais tornando a vida cotidiana mais simples, auxiliando na realização de tarefas.

Para que este processo aconteça é preciso domínio e aprendizado tecnológico conforme afirma Kenski (2011, p. 41) “Já não há um momento determinado em que qualquer pessoa possa dizer que não há mais o que aprender. Ao contrário, a sensação é a de que quanto mais se aprende mais há para estudar, para se atualizar”. Sampaio e Leite (2008) afirmam que as discussões mais sistematizadas sobre tecnologia educacional no Brasil iniciaram a partir da década de 60 e sua utilização era baseada na teoria pedagógica tecnicista que empregava recursos técnicos na educação sem questionar sua utilidade para aprimorar o desempenho do professor.

Atualmente quando a expressão “tecnologia na educação” é empregada, dificilmente se pensa em giz, quadro, livros, revistas, currículos, programas (entidades abstratas) e muito menos na fala, “as tecnologias são tão antigas quanto à espécie humana. Na verdade, foi a engenhosidade humana, em todos os tempos, que deu origem às mais diferenciadas tecnologias” (KENSKI, 2011, p.15).

Nesse momento social a tecnologia está intermediando a relação entre a informação e o ser humano e para garantir a utilização confortável dessas tecnologias é preciso esforço e atualização está aí à importância da educação transdisciplinar em fazer parte de todo esse processo, já que promove a interação entre o objeto (informação), o sujeito (educando) e os diversos campos do saber (disciplinas).

Quanto mais é possível capturar, armazenar, organizar, pesquisar, recuperar e transmitir a informação, mas é necessário aprender “as múltiplas possibilidades trazidas pela complexidade” (PRETTO, 2011, p.109) Na educação transdisciplinar construção do conhecimento se dá através da aprendizagem que é um processo ativo conduzindo o homem a transformações, logo conhecimento é a ação e tomada de consciência do que é produzido pela sociedade. As transformações sociais, econômicas e tecnológicas impõem novas formas de ensinar e aprender, portanto os recursos tecnológicos incorporam-se de forma crescente ao processo ensino-aprendizagem como ferramenta de mediação entre o indivíduo e o conhecimento auxiliando na formação cidadão que necessita desenvolver seu potencial para atuar no contexto ao qual está inserido, conforme afirmam Sampaio e Leite (2008, p. 74):

Para realizar a tarefa e relacionar o universo do aluno ao universo dos conteúdos escolares, e com isso contribuir para a formação básica do cidadão/trabalhador, o professor precisa também utilizar as tecnologias que hoje são parte integrante da vida cotidiana O impacto das novas tecnologias não é de imediato, demora-se um tempo para os indivíduos incorporarem os avanços e aprendam como utilizá-las.

Não basta adquirir máquinas e equipamento é preciso saber usar para reproduzir novas condições de aprendizagem e estilo de vida. Um fato relevante é a democratização do conhecimento de maneira ampla. Sobre este assunto Sampaio e Leite (2008, p. 17) acrescentam “A escola, porém, não pode colocar-se à margem do processo social, sob a pena de perder a oportunidade de participar e influenciar na construção do conhecimento social, e ainda de democratizar informação e conhecimento”.

Logo ser tecnológico é estar aberto ao conhecimento, buscando ampliar saberes, para isso segundo Silva (2011) não basta utilizar bem as tecnologias, faz-se necessários recriá-las, assumir a produção e a condução tecnológica de modo a refletir sobre a sua ação sobre o processo educativo,pois desconectadas de um projeto pedagógico a mesma tecnologia que viabiliza o progresso e as novas formas de organização social também têm um grande potencial para alargar as distâncias existentes entre os mundos dos incluídos e dos excluídos.

É possível concluir que a tecnologia só promove a cidadania, entendida neste recorte como acesso a informação e ampliação do conhecimento através de recursos tecnológicos, quando é alicerçada por uma proposta de educação que priorize a afirmação da criticidade e do despertar da consciência, perspectiva esta atendida por uma prática transdisciplinar que agrega pensamento e ação e promove situações de ensino-aprendizagem que envolve recursos e procedimentos metodológicos inovadores.

É preciso investir transdisciplinaridade, lançando desafios na busca de conhecimentos, discutindo a o potencial dos recursos tecnológicos, inovando na produção de material didático, oportunizando também a busca de saberes, possibilitando interfaces entre educação, tecnologia e informação.

No mundo complexo das informações, é preciso selecionar cada vez mais o que tem ou não utilidade. Nunca se produziu tanto. O volume, o movimento de dados tem se reproduzido pelo mundo globalizado, e neste sentido, as novas tecnologias, têm vindo somar. Para Bianchetti (2001), a informação pode ser inventada como matéria-prima a partir da qual é admissível chegar ao conhecimento. Montar dados e informações são teorias importantes para se chegar ao conhecimento. Mas, segundo o autor, conhecimento tem a ver com construção.

Adaptar o currículo da escola a uma nova realidade contemporânea é associar cidadania “a construção social do conhecimento a partir do acesso aos novos avanços da ciência e do desenvolvimento tecnológico” (AHLERT A., 2003, p. 146). Nesta perspectiva o pleno exercício da cidadania só é realizável se cada cidadão dominar conhecimentos, informações, saberes técnicos, científicos e relacionais proporcionados pela tecnologia de forma igualitária durante todo seu processo educativo. 

A informação e os equipamentos existentes disponíveis para uso detectados entre as classes sociais não estão ao alcancem de todos e os que têm sofrem influências negativas pela não adaptação ao seu contexto, como a falta de capacitação para utilizar os recursos de forma adequada.

A inclusão digital que consiste em possuir recursos tecnológicos e estar inserido na sociedade da informação, compreendida como sociedade onde o indivíduo atua sobre o conhecimento reorganiza-o ao seu favor, só tornar-se-á possível quando “o acesso à utilização dos meios tecnológicos de trabalho, pesquisa, publicação e comunicação estiver assegurado” (PATROCÍNIO, 2009, p.53).

Paralelo a este processo deve–se adotar medidas para o “domínio razoável e consciente da sua utilização” (PATROCÍNIO, 2009, p. 53) a fim de capacitar os incluídos digitais, aqueles que têm uma infra-estrutura a nível de recursos e penetrabilidade no meio informacional, pois “somente o acesso às redes não implica em uma série de habilidades que os cidadãos necessitam construir para que a comunicação se realize e para que exerçam seus direitos e organizem seus interesses nas redes digitais.” (SILVEIRA, 2008, p.56)

A fim de gozar da cidadania digital definida como o direito de apropriar-se socialmente da tecnologia criando habilidades para geração e disseminação de novos conhecimentos, a escola utilizando como modelo a educação transdisciplinar, deve preparar o educando para exercer sua autonomia e participação no mundo virtual logo “dar centralidade à pessoa na perspectiva do seu desenvolvimento como cidadão digital levando em conta, concomitantemente, as suas vivências mais positivas e mais negativas” (PATROCÍNIO, 2009, p. 56) equilibrando assim uma atitude hipercrítica, posição de permanente e contínua de reflexão, e uma atitude subcrítica, postura de vigilância e observação atuante, em relação à sociedade atual.

Neste contexto cidadania digital é ter acesso a informação, é ter meios de transformar esta informação em conhecimento através da vivência de uma educação transdisciplinar proporcionada por uma instituição escolar, é possibilitar que o educando tenha acesso a equipamentos e possa familiarizar-se com eles a fim de construir novas formas de pensar e ver o mundo para agir como sujeito criador de oportunidades que irão promover a emancipação social.

A cidadania digital dentro do contexto educacional ainda traz outras questões problematizadoras além do acesso e da utilização de equipamentos: é a noção de território e o tratamento das informações. A visão de cidadania transcendeu as barreiras geográficas com o advento das tecnologias da informação e da comunicação, conectando pessoas em qualquer lugar do mundo.

“O entendimento de que o local existe no global e que o global existe no local” (PATROCÍNIO, 2009, p.49), ou seja, na prática isto significa afirmar que a resolução de problemas econômicos, sociais, políticos, culturais não é responsabilidade apenas de um grupo específico, mas afetam a todos independente das barreiras físicas ou distância que separam as pessoas. “o mundo global desenvolve, embora lentamente, uma cidadania também global” (BOAVENTURA, 2001, p. 33) a ação-intervenção pertence à humanidade na construção do bem-estar social, transformando o seu meio.

A tecnologia vem eliminando as fronteiras e tem levado a uma visão transdisciplinar dos fatos, não existe a fragmentação e os fenômenos não são vistos de forma isolada, desconectada ou descontextualizada, logo ser cidadão é fazer intervenções no meu bairro, na minha cidade, no meu estado, no meu país, no mundo do qual faço parte. Quanto ao tratamento da informação Patrocínio (2009) alerta que na internet existe muita informação, mas também muita superinformação, muita subinformação e muita pseudo-informação que não são filtradas nem verificadas a sua origem perdendo a referência cultural, social, filosófica e histórica.

Neste caso é preciso que as experiências educativas decorram numa atmosfera de questionabilidade que leve cada um, educador e educando, à tomada de consciência de si próprio, potencializando as suas capacidades para o entendimento e para a ação com intencionalidade fundamentada numa teoria que seja significativa e articulada com a vida. Quanto ao papel do professor e aluno neste cenário Sampaio e Leite (2008, p. 19) ainda acrescentam: Existe, portanto, a necessidade de transformações do papel do professor e do seu modo de atuar no processo educativo.

Cada vez mais ele deve levar em conta o ritmo acelerado e a grande quantidade de informações que circulam no mundo hoje, trabalhando de maneira crítica com a tecnologia presente no nosso cotidiano Isso faz com que a formação do educador deva voltar-se para análise e compreensão dessa realidade, bem como para a busca de maneiras de agir pedagogicamente diante dela. É necessário que professores e alunos conheçam, interpretem, utilizem reflitam e dominem criticamente a tecnologia para não serem por ela dominados.

Quando o contexto é desvendado e o entorno revela-se, o ser humano tem condições de levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções, transformando-a. Compreender os impactos e desafios que a tecnologia impõem é fundamental, para que professores e alunos não seja apenas um objeto dela, mas que procurem condições de reinventá-la na prática educativa, semeando assim o desenvolvimento humano utilizando a educação e tecnologia como meio de transformar a informação em conhecimento. 5

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação é um direito social garantido pela constituição, sozinha ela não tem o poder de modificar a sociedade tampouco sem ela o significado de civilização ficaria esquecido visto que o individuo reconhece-se sujeito da coletividade quando é inserido num processo formativo que tem a função não só de compartilhar informações, mas de constituir cidadãos autônomos capazes de desenvolver-se cognitivamente, historicamente, culturalmente, afetivamente e socialmente. Mudanças na economia, política e no quadro social impactam na sociedade ultrapassando os muros da escola transformando a concepção pedagógica, ou seja, o processo educativo estimula a participação dentro das esferas públicas, se estende pela vida e não é neutro.

Uma escola contemporânea deve amar o conhecimento, isto é, ela é reconhecida como espaço de realização humana porque vai além da aquisição de conteúdos programáticos e não é uma pura receptora de mensagens.

Ao contrário,na escola é possível produzir, construir, reconstruir, elaborar, selecionar e rever criticamente a informação auxiliando a formular hipóteses com base na criatividade e inovação. Nesta perspectiva de inteireza do ser não só que vive no mundo, mas interage e participa dele, constrói-se a relação entre educação, tecnologia e cidadania superando a visão capitalista que enfatiza as idéias neoliberais e não se preocupa com o bem-estar da coletividade.

A tecnologia não pode servir de base para propagação dos interesses de poucos, sua ênfase deve ser para a promoção e potencialização do acesso ao conhecimento, do desenvolvimento humano, da emancipação social, expresso em termos de qualidade de vida. Assim este estudonos permite concluir que o elo entre a tríade educação, tecnologia e cidadaniaé parte do processo formativo do ser humano sendo indissociável dos paradigmas emergentes que norteiam a contemporaneidade.

No contexto local e global a tecnologia e a cidadania norteiam as práticas de ensinoaprendizagem, já que se ampliam as possibilidades cognitivasatravés da interação entre a informação o educando e os diversos campos do saber, ampliam as possibilidades éticas promovendo a reflexão sobre a ação tecnológicano processo educativo e fora deste contexto,ampliam as possibilidades espaciais rompendo as barreiras físicas e distâncias que separam as pessoas e ampliam as possibilidades relacionais conectando cidadãos de países, estados, cidades diferentes.

Para que se possa viver em e na cidadania é preciso conhecimento. As considerações anteriores evidenciam que esse conhecimento é mediado pela educação e tecnologia na sociedade contemporânea, logo a educação integrada à tecnologia promove cidadania, estimulando indivíduosa desenvolver uma capacidade de debater, de negociar, de intervir, de fazer escolhas conscientes em relação ao bem-estar coletivo, em busca de uma sociedade democrática que promova práticas participativas e dialógicas tornando o meio que se vive habitável para si e para os outros. REFERÊNCIAS AHLERT, Alvori . Políticas públicas e Edu

 

 

Dados das Autoras

1 Mestra em Desenvolvimento humano e responsabilidade Social (Fundação Visconde de Cairu), especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, graduada em pedagogia

2 Professora da disciplina Ética e Responsabilidade Social no mestrado Profissional em Desenvolvimento humano e responsabilidade Social (Fundação Visconde de Cairu), doutora e mestra em educação pela Universidade Federal da Bahia.

 

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